UMAMI, CONSOLAÇÃO
Conhecida entre os locais pelas suas rochas negras com um ligeiro brilho metálico caracterizadas por sua riqueza em iodo e desconhecida em iguais proporções pelos turistas, que, nesta zona, se espalham mais por Santa Cruz, Areia Branca, Peniche e Baleal, a Praia da consolação, e a comunidade que a rodeia, mantém-se um segredo mal guardado entre as pessoas que a frequentam.
Após chegarmos, deparei-me com o menu de um restaurante que é difícil de passar despercebido, pois fica numa ótima localização mesmo junto ao parque de estacionamento que acompanha a entrada da praia. Calculando eu que um restaurante junto à praia tivesse uma ementa mais virada para o peixe (já lá chegamos) não pude deixar de ficar admirado quando reparei nas variedades de pratos de carne que estavam expostos na mesma.
Saltou-me à vista o "Bife de Chourizo". Um corte típico da Argentina, utilizando um bife da zona da vazia, mais especificamente do contrafilé (palavra utilizada na nomenclatura dos nossos irmãos Brasileiros) com uma altura ideal de 3 dedos... Só de pensar no dito Bife fico com fome!
Então decidimos que ali seria o local da nossa refeição.
Antes de irmos almoçar, fomos ao café junto ao areal beber 2 imperiais fresquinhas para abrir o apetite, até porque ainda não estava bem na hora de almoço. Após esses aperitivos e uns dedos de conversa, fomos então ter até ao restaurante.
UMAMI é o nome do estabelecimento, como já referido posteriormente, numa localização difícil de passar despercebida, entramos, cumprimentamos o pessoal da staff e pedimos uma mesa na esplanada. Devo salientar que seria perto do meio dia, num dia da semana, logo, fomos dos primeiros clientes a chegar e como se costuma dizer, tínhamos a casa só para nós.
O empregado foi ter connosco à rua, para consolidar os nossos pedidos. Eu já sabia o que queria mesmo antes de entrar, o meu amigo, que me fez companhia nesta refeição, é um amante de peixe, e especialmente de peixe fresco (estando ele imigrado, tem uma maior dificuldade em arranjar peixe fresco como se arranja num restaurante costeiro em Portugal). O chef, um Jovem com experiência posterior em restaurantes com estrela michelin, fez questão de nos mostrar o peixe do dia, trouxe-nos à mesa uma cabeça de perca, uma dose que seria suficiente para nós os dois e que tinha um FANTÁSTICO aspecto ainda crua. não fosse pelo Bife de Chorizo, teria sido sem dúvida a minha escolha para a refeição.
Das entradas disponíveis, decidimos pedir pão e o patê caseiro de sapateira, que por sua vez realmente se distinguiu pelo seu sabor a mar. não havia como enganar, aquilo era realmente feito na casa, e feito com sapateira.
Honestamente, no que toca a bebidas eu não sou a pessoa certa para comentar. Bebo cerveja quando está sol e não sou apreciador de vinhos. Na refeição, a bebida para mim serve para cortar sabores e para ajudar na digestão dos alimentos. Pedi uma Cola Zero, que me foi servida em lata, com um copo com gelo e limão. Não poderia pedir mais do que aquilo. Já o meu amigo, pediu um copo de vinho branco pois não justificava uma garrafa inteira só para ele.
Não me perguntem que garrafa foi que eu não prestei atenção, mas o chefe de sala fez questão de levar a garrafa à mesa, de a abrir diante dos nossos olhos e de servir o copo. Mesmo não sendo um apreciador e não sendo o copo para mim, o facto da pessoa que nos servia o ter feito independentemente de ser a primeira vez que nos sentámos naquele restaurante, demonstra o quão importante a satisfação dos clientes é para a casa. Gostei imenso do gesto.
E, como se faltasse, o chef ainda nos mandou 2 Croquetes de alheira, com um fio de creme de Queijo por cima, penso eu que fosse Brie e com um salpico de cebolinho. Mandou também dois Pastéis de bacalhau com umas pedrinhas de sal marinho por cima.
Os pastéis de bacalhau eram bons, dentro de um regime normal quando se consta o típico pastel de bacalhau. Fritos na perfeição, muito estéticos, com uma fina camada crocante por fora e uma textura suave quase de algodão doce por dentro. O sal marinho por cima decerto que deu uma certa distinção.
Agora, é me difícil fazer expressar por palavras o quão boas aquelas Bolinhas de alheira eram. Fritas na perfeição, com uma fina camada crocante por fora, perfeitamente acomodadas por dentro e depois, aquele contraste genial que o creme de queijo deu e com o cebolinho a aromatizar todos os espacinhos que ficaram por preencher nas papilas gustativas, sem exagero, das mais saborosas maneiras de comer alheira que eu tive o prazer de provar. Para mim, uma combinação perfeita entre sabores e texturas.
Entretanto, após uma breve espera de cerca de 15/20 minutos, o empregado recolhe as loiças e procede em nos trazer os pratos principais da refeição. Falando primeiro do prato do meu amigo, veio uma posta de peixe grelhada que ele acabou por pedir porque a cabeça da perca era demasiado grande para ele só. Vinha aparentemente Grelhada na perfeição, pelo que uma pessoa consegue avaliar com o olhar, o peixe separava-se gentilmente quando tocado com o garfo. como acompanhamento, veio um prato de batatas à murro, com um coração de cove salteado levemente banhado com um molho não identificado (por mim) e amendoins. Penso que tudo fazia parte da experiência de sabor/textura. Uma muito boa apresentação em geral e só com o olhar dava para perceber que o sabor acompanhava o aspecto.
trouxeram-me um recipiente com uma porção generosa de batata frita, batata esta frita com casca, definitivamente pré frita, muito similar estilo de fritura boardwalk mas penso que fritas em oleo de girassol pois estavam estaladiças. salgadas na perfeição. Como grande apreciador de batatas fritas que sou, este é o modelo a seguir.
serviram-me também uma tacinha com salada de alface, com umas rodelas finas de algo branco e roxo que não identifiquei na minha base de dados mental de alimentos, que tinha um sabor extremamente agradável. saliento também que a salada veio já temperada e para o melhor, pois o tempero estava subtilmente no ponto.
O meu "Bife de Chourizo" é que me deixou a desejar.
Estando eu extremamente familiarizado com aquele tipo de corte nobre, foi me apresentado um bife com cerca de 1 dedo de altura, banhado com um molho que se fosse para adivinhar diria ser de cerveja preta, com um distinto toque amargo e doce.
Não sendo injusto com o restaurante, O bife estava celado na perfeição, estranhei o molho ao início mas fui-me acostumando ao sabor e acabou por ser uma boa experiência culinária. Mas nada digno de escrever para casa. Não foi um prato que me fez superar a desilusão de não ter comido um verdadeiro Bife de Chorizo, que foi o principal motivo que me fez querer ir ali almoçar.
Dito isto gostaria que o chef do restaurante tivesse isso em conta. Que vendesse um real Bife de Chorizo ou então que trocasse o nome da receita na ementa, porque pouca coisa apaga o sabor da desilusão da boca e para mim, o que me foi servido, apesar de tenro e saboroso, não foi o suficiente para me libertar da mágoa de não ter comido o que pedi.
Talvez ajudasse também um breve prefácio sobre cada prato na ementa, para se saber realmente o que se está a pedir, porque sabendo eu que o que eu ia pedir seria algo inteiramente diferente da imagem mental que eu tinha antes de me sentar à mesa, possivelmente tinha dividido aquela maravilhosa cabeça de perca com o meu amigo.
após os pratos principais, foi pedida uma sobremesa de ananás desidratado, que constava em raspas de ananás seco, estaladiço e com o sabor doce do ananás, uma bola de chantili com pouco açúcar, que é uma jogada de mestre sabendo que o doce do ananás iria complementar o chantili e se este fosse adoçado tornar-se-ia seria enjoativo, e, no fundo, pedaços de ananás que adicionavam a textura e a humidade perfeita ao palato.
Devo também salientar que todas as loiças em que qualquer parte da refeição eram bonitas, e dentro do tema do mar que acompanhava o restaurante. pequenos pormenores como guardanapos gravados com o Logo do restaurante ajudam a distinguir o UMAMI dos restaurantes mais comuns. só comento as loiças e outro tipo de apresentação no fim porque para mim são fatores secundários. A qualidade da comida vem sempre em primeiro lugar.
O meu veredicto final em relação a esta experiência, dando uma nota de 0 a 10, seria um modesto 7. Estava tudo maravilhosamente bom, mas para mim, o "Bife de Chourizo" foi um erro crasso. Para um restaurante com tanta categoria em todos os outros aspectos e com um chef que, apesar de jovem, já é dotado de experiência em cozinhas condecoradas, considero quase que inadmissível haver uma falha dessas na ementa. O preço final da refeição para os 2, incluindo 2 copos de vinho e duas cola zero foi de pouco mais de 49€, o que independentemente de tudo, para o tipo de restaurante que é, o coloca num patamar de uma refeição que vale o preço que se paga.
Pondo isto, decerto que lá voltarei, mas, da próxima, para comer uma bela cabeça de perca.
Não se engasguem,
-R. L. J. V. Cardoso, @o.comestivel
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